quarta-feira, 3 de março de 2010

Obrigações e Virtudes




A foto é da Quitanda e eu escrevi com letra maiúscula porque ela foi e é muito importante para muitas passoas. A Quitanda era uma espécie de QG (Quartel General) dos negócios do Vô Careca e Vó Carmem sendo o ponto fixo de venda de horti-fruti-granjeiros, depósito do estoque da banca da feira e local de condicionamento de produtos (preparação e embalagem para o varejo).

A Quitanda ficava bem na frente da casa e tinha duas portas de aço, de enrolar, cujas soleiras formavam um degrau que servia de banco improvisado, especialmente quando a Quitanda estava fechada. Acho que a Quitanda prestou grande utilidade pública como ponto de encontro dos meninos e meninas que lá se sentavam para conversar e lá deve ter sido o palco de grandes amizades.

Dentro da Quitanda tinha muita coisa, mas acima de tudo muito trabalho; trabalho compulsório que não só gerava os recursos da família como também disciplinava e ensinava os filhos do Vô e da Vó. Identificar e reconhecer a qualidade do produto, atender bem o cliente, atender o fornecedor, pagar e receber, fazer contas e dar troco, marter a ordem, higiene e expor a mercadoria, estocar e controlar os produtos... Eu mesmo já fiz bastante coisa por lá, às vezes por simples camaradagem, ajudando o Tio Beto enquanto conversávamos, às vezes por interesse de sair para namorar com a Tia Mica. Lembro de uma vez que ela tinha que tirar as cebolas de grandes sacos, limpar e colocar em redinhas vermelhas com um quilo em cada e ela só poderia sair comigo quando tudo estivesse terminado, então eu e ela fizemos um mutirão e, rapidinho, terminamos o serviço para curtirmos logo um ao outro.

A Quitanda foi local de alegrias e sofrimentos e muitos lembram o quão difícil era cumprir todas as tarefas da casa e da quitanda. Cozinhar, limpar a casa, lavar e passar roupa, cuidar da horta, tudo era feito pela família e ainda tinha a Quitanda.

Hoje eu penso que, se cada família tivesse a sua "quitanda" seríamos uma nação melhor, mais responsável, mais consciente do valor das coisas, do trabalho e da família. Muitas crianças de hoje são super-protegidas, super-vigiadas, super-nutridas, super-mimadas, super-pasteurizadas, super-manipuladas, super-poluidoras, super-perdulárias, super-solitárias e super-infelizes.

Ah, que saudades dos tempos da Quitanda!

Um comentário:

  1. Matheus , tudo isso que o tioavô Luís disse realmente nos dignifica muito mesmo, principalmente porque fez com que ,nós os filhos do vô Careca e da vó Carmem, ficassemos muito unidos, sabiamos que cada um tinha sua tarefa e faziamos naturalmente,sem sofrimento. Mas com isso as vezes aprontavamos "boas" para a vó Carmem , eu principalmente, todos contam que certa vez eu convidei a clientela toda para a festa do meu aniversário que aconteceria somente na minha fértil e sonhadora "cabecinha" ,nem posso imaginar o que passaram quando os convidados começaram a chegar e não tinham festa nenhuma. Devo ter levado uma bronca tão grande que até hoje não gosto de festa de aniversário.

    ResponderExcluir