Curioso...
Quando o telefone tocou naquele horário incomum, logo pensei que era um daqueles impertinentes "kaos center" com imperdível oportunidade de gasto certo em fútil porcaria. Mas desta vez não era, na verdade era uma ligação da sua Avó, toda daquele seu jeito, anunciando que você viria à noite.
Garoto, que hora você escolheu heim? Parece que sabia, ou melhor, parece que as jabuticabeiras sabiam que você viria e anteciparam descomunal safra, pretinhas, pretinhas...
Pouco antes, no domingo, fizemos uma verdadeira peregrinação por vinte e duas plantas, dezenove do Seu Ditinho e tres nossas, saboreando alguns exemplares de cada, é claro que nem sempre conseguíamos evitar uma parada mais longa nas mais caprichosas, de ainda mais saborosos frutos.
Acho que você sabia mesmo a boa hora de vir, afinal, como explicar a súbita mudança nas cartas numéricas do CPTEC que insistiam em prever chuva no sábado, justo naquele sábado, o único dia do ano que o Observatório de Brazópolis estaria aberto ao público à noite. Tudo mudou de última hora e aquele sábado nubladão foi evanescendo na forma de ensolarado entardecer acompanhado pela cristalina noite, salpicadinha de suas mais lindas habitantes que, despudoradamente, exibiram-se através das oculares a nossos extasiados olhos. Garoto esperto! Escolheu o melhor do nosso humor para nos presentear com sua vinda.
E o sabiá, aquele que fez ninho na nossa garagem? Acredita que o filhote resolveu tentar roubar a cena, fugiu do ninho deixando papai e mamãe sabiás doidinhos, e eu também. Veja só, peguei o fujão, coloquei a escada e subi lá no alto do ninho para devolvê-lo. Não deu outra, o outro filhote assustou e pulou fora. Calmamente deixei o fujão em seu lugar e desci para resgatar o outro.
Nem precisa falar que quando fui colocar o outro de volta no ninho o primeiro pulou fora de novo né?
Pois bem, munido de uma paciência que não tenho, peguei os dois de novo e os coloquei juntos no ninho, com muito carinho e cuidado para não espantarem.
À noite, quando voltei do trabalho, enquanto o portão se abria diante da caminhonete, eis que um filhotão estava se equilibrando no tirante de aço que se elevava. Aí não restou opção: tive que hospedá-lo conosco naquela noite a protegê-lo de algum gato faminto.
E como o momento era festivo, para a sua chegada, não é que o filhote está pelas redondezas sob o atento olhar de seus pais, se divertindo à beça?
E por falar em sabiás, sua Tiavó Mica começou a deixar uma "marmita" para eles do lado de fora da cozinha. Ela espera que desta forma, os atrevidos não venham mais servir-se da comida posta à mesa. Vê se pode?
Eu gostaria de contar também das nêsperas maduras, amarelinhas mesmo, das carpinhas coloridas e de como a água do laguinho do Tio Thiago estava limpinha, do delicioso espetinho que assamos no dia do meu aniversário e de um tanto de outras coisas lindas que emolduraram o anúncio da sua chegada. Mas se eu ficar contando tudo isso, vai faltar espaço para o mais importante que é dizer o quanto estamos alegres, o quanto você já é amado e como nossos corações estão cheios de esperança de que você, garotão, será um menino cheio de saúde, inteligência e felicidade.
Bem-vindo
Matheus!
